11 de jun. de 2020

O "vírus chinês". Etnocentrismo em tempos de pandemia


por Gabriela Scotto

    Pandemias como as que estamos vivendo amplificam e expõem, de forma brutal, aspectos da sociedade que em tempos "normais" costumam ficar invisibilizados ou silenciados. Ao ler os jornais ou assistir o noticiário na TV temos a impressão de que aspectos da nossa sociedade como a profunda desigualdade social, a importância da saúde pública, a violência do Estado, a violência doméstica, o racismo, dentre outros, tivessem sido descobertos como temas fundamentais, com a pandemia. É o que chamo de efeitos amplificadores das pandemiasUm desses aspectos expostos  que gostaria de mencionar aqui é a do visível etnocentrismo embutido na ideia do "vírus chinês". 

    Em 1952, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss escreveu Raça e História a pedido da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como contribuição ao programa de luta contra o racismo. No seu texto, ele carateriza o etnocentrismo como a atitude que consiste em "repudiar pura e simplesmente as formas culturais, morais, religiosas, sociais e estéticas mais afastadas daquelas com que nos identificamos." E acrescenta, de forma taxativa, que as atitudes etnocêntricas podem ser identificadas como "um sem número de reações grosseiras que traduzem este mesmo calafrio, esta mesma repulsa, em presença de maneiras de viver, de crer ou de pensar que nos são estranhas." (LÉVI-STRAUSS, 1952).

    Quando se espalham pelas redes sociais vídeos que mostram chineses comendo morcegos, ou afirmações - respaldadas por governantes - de que o vírus seria parte de um "programa secreto de armas biológicas" da China, estamos perante atitudes que Lévi-Strauss não duvidaria de chamar de etnocêntricas. Atitudes "grosseiras" e violentas como a que sofreu uma estudante de direito da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) descendente de japoneses que circulava na linha 1 do metrô, no Rio de Janeiro, ao ser xingada de "chinesa porca" por uma mulher; ou ainda, as do ministro de Educação, Abraham Weintraub, quando satiriza a maneira como os chineses falam e insinua publicamente que o país asiático usa o coronavírus para dominar o mundo, são fortemente etnocêntricas e, como diria  o antropólogo francês, "bárbaras".

    Se em muitos casos, o etnocentrismo está baseado na má fé, na violência e na estupidez, em muitos outros, ele é resultados do desconhecimento sobre os que são diferentes a nós, no caso em questão, os chineses. Nesse sentido. acredito que uma das formas de combater as atitudes e crenças etnocêntricas é procurar conhecer e entender aqueles que são diferentes e que, conforme os nossos padrões culturais, parecem "exóticos" e "incivilizados". A seguir compartilho algumas referências de leituras que buscam ajudar a conhecer e compreender a China e os chineses. Se o COVID-19 está difícil de ser combatido e erradicado que, ao menos sejamos capazes de combater "o vírus chinês".


Olhares antropológicos sobre a China

  • HAN, Byung-Chul. Shanzhai. El arte de la falsificación y la descontrucción en China. Buenos Aires: Caja Negra, 2016
  • SAID, Edward  W. Orientalismo. O oriente como invenção de ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.               


Sites com informações, notícias e análises sobre a China atual


  • O interesse sobre a China está crescendo em toda parte. No entanto, fora da China, a maioria das notícias e análises disponíveis ainda é produzida pela grande mídia do Norte Global. O Coletivo Dong Feng - formado por pesquisadores de vários países - produz um resumo semanal de notícias da China (de fontes locais em chinês e inglês), a fim de possibilitar o acesso às perspectivas chinesas. Como referência, também se incluem uma pequena seleção de artigos da mídia ocidental. O resumo é publicado todo sábado em espanhol, português e inglês.

  • SANTORO, Maurício - Diálogo ChinoSobre China, América Latina e o meio ambiente
Diálogo Chino é um site de jornalismo independente dedicado a destrinchar as relações China-América Latina e seus desafios para o desenvolvimento sustentável.

O Extramuros propõe-se olhar a China além da China, além das fronteiras físicas, mentais, pessoais, das muralhas do nosso conhecimento. Este é um laboratório escrito e visual que se propõe a dar voz a quem quer contornar obstáculos, sejam eles a língua, a cultura ou a dimensão de um espaço aparentemente inalcançável. O Extramuros é um projeto da Casa de Portugal em Macau.

Planeta China 中国门 é uma  plataforma de contínuas interações  sino-lusófonas. Um espaço de ação a unir ocidente e oriente há mais de 15 anos via projetos culturais, educacionais e consultorias.


Viajantes e encontros culturais:

  • FREYRE, Gilberto. China tropical e outros escritos sobre a influência do Oriente na cultura luso-brasileira. São Paulo: Global, 2011
  • HENFIL. Henfil na China (antes da Coca Cola), Editora Codecri, 1980
  • MARCO POLO. Livro das Maravilhas. (século  XIII)


Como citar este texto:

SCOTTO, Gabriela. "O "vírus chinês". Etnocentrismo em tempos de pandemia". Blog Outros Olhares, Rio de Janeiro, 11 de junho de 2020. Disponível em:  <https://outrosolharessobre.blogspot.com/2020/06/o-virus-chines-etnocentrismo-em-tempos.html> 

4 de fev. de 2019

Narrativas contemporâneas na propaganda corporativa das empresas mineradoras transnacionais: elementos para a análise do “espírito” da mineração - Gabriela Scotto, dez 2018

Para quem possa interessar, compartilho um artigo meu que saiu publicado em dezembro de 2018 sobre narrativas visuais das corporações mineradoras, ocultamentos, deslocamentos e desastres ambientais e sociais que "sujam a imagem" e evidenciam as falacias contidas nas noções de "industria" da mineração e de "mineração sustentável".  Mais um desastre... desta vez, haverá possibilidade de deslocamento por parte capital? Poderão ser absorvidas às críticas? 

RESUMO:

Este artigo toma como ponto de partida a premissa acerca da centralidade dos processos simbólicos para compreender, não só as “mágicas” argumentativas que possibilitam às corporações transnacionais mineradoras apresentarem suas práticas como “sustentáveis”, mas também, a própria lógica da reprodução do capital na base da extração de recursos naturais finitos. Para avançar nessa direção, se analisam os dispositivos imagéticos, em especial os audiovisuais, que compõem a chamada “propaganda institucional” (ou “corporativa”) das empresas, com especial atenção para o caso da empresa brasileira
Vale. O artigo se divide em duas partes. Na primeira, se apresenta uma reflexão sobre o caráter dos filmes publicitários das empresas mineradoras à luz da noção de “narrativas contemporâneas”, abordando metodologicamente esses dispositivos como documentos para a análise do “espírito” da mineração. Na segunda parte do texto, se sugerem algumas leituras das representações imagéticas e narrativas sobre a “natureza” e o “desenvolvimento sustentável”, apontando a “alquimia discursiva” que possibilita a uma empresa de mineração apresentar publicamente suas atividades como “sustentáveis”. O texto se encerra como algumas considerações finais acerca dos desafios e limites que a propaganda corporativa e a captura do desenvolvimento sustentável enfrentam, quando desastres ambientais ocorrem, “sujando a imagem” das empresas, e reduzindo a capacidade do capitalismo produzir um deslocamento para conter as críticas.

Referência bibliográfica:

SCOTTO, Gabriela. Narrativas contemporâneas na propaganda corporativa das empresas mineradoras transnacionais: elementos para a análise do “espírito” da mineração. Cuadernos del Instituto Nacional de Antropología y Pensamiento Latinoamericano, [S.l.], v. 27, n. 2, p. 37-54, nov. 2018. ISSN 2422-7749. 


Para ler o artigo na integra, clicar no link a seguir:  

Narrativas contemporâneas na propaganda corporativa das empresas mineradoras transnacionais: elementos para a análise do “espírito” da mineração

30 de jan. de 2019

O CRIME DA VALE: a desigual repartição entre lucros e perdas na mineração brasileira - Nota de protesto e solidariedade da Rede brasileira de justiça ambiental


A Rede Brasileira de Justiça Ambiental expressa a sua mais sentida solidariedade aos familiares e amigos de mortos e desaparecidos em virtude da ruptura da barragem de rejeitos da mineradora Vale, em Brumadinho/MG, assim como aos trabalhadores da mineração e todos aqueles que viram suas residências e suas atividades econômicas irremediavelmente prejudicadas por esse fato.

Desde o desastre ocorrido, em 2015, em Mariana/MG, temos denunciado que o setor mineral brasileiro, com a conivência do Estado, se vale da transferência de riscos e custos ambientais sobre as populações de baixa renda e/ou vulnerabilizadas pela discriminação racial e étnica para maximizar a sua lucratividade. 84.5% das vítimas imediatas do rompimento barragem de Fundão, em 2015, que viviam no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, não eram brancas. No Córrego do Feijão e em Parque da Cachoeira, localidades mais atingidas pelo rompimento da barragem em Brumadinho, 58,8 % e 70,3% da população, respectivamente, se declara como não branca, segundo o último censo do IBGE de 2010. A renda média em Córrego era de menos de 2 salários mínimos (1).

Essa aparente “coincidência” entre os dois desastres reflete a lógica racista, classista, negligente e irresponsável do Estado nos licenciamentos e controle ambiental para favorecer projetos econômicos causadores de injustiças ambientais. A absurda auto regulação, a ausência de fiscalização, de plano de emergência, de sirenes e, sobretudo, de informação antes e depois do desastre estão associadas à escolha locacional dessas barragens e a quem são os grupos sociais postos sob riscos constantes: tratam-se de áreas onde vivem comunidades negras e pobres ou  povos indígenas, não representadas nas esferas decisórias e permanentemente desconsideradas e invisibilizadas nesses espaços.

Tais tipos de catástrofe humana e ambiental seriam perfeitamente evitáveis não fosse o interesse econômico das empresas em maximizar seus lucros, para isso economizando nas medidas de segurança, descumprindo ou alterando leis, desconsiderando ou minimizando os impactos ambientais e a própria existência de populações nas áreas de interesse dos negócios. Condutas criminosas, formalmente autorizadas pelas autoridades estaduais e federais, muitas delas eleitas com a contribuição das mineradoras, o que explica a legislação que concede às próprias empresas a tarefa de se auto avaliarem e se monitorarem, bem como a fiscalização frouxa ou mesmo inexistente a que são submetidas.

Infelizmente, os desastres relacionados ao rompimento de barragens, como os ocorridos em Brumadinho e Mariana, sob a leniência criminosa do governo de Minas, têm sido recorrentes: as atividades realizadas pelas mineradoras Rio Pomba Cataguases (Miraí/MG, 2007), Companhia Siderúrgica Nacional (Congonhas/MG, 2008), Herculano Mineração (Itabirito/MG, 2014), Hydro Alunorte (Barcarena/PA, 2018) também resultaram em desastres semelhantes. Eles evidenciam um setor cuja cadeia de produção exige a apropriação de vastos territórios, terras, florestas e águas, contamina o meio ambiente, provoca degradação social e mortes. Um setor que responde a um modelo voltado para a exportação primária de recursos que escoam, sem nenhum tipo de beneficiamento, para o mercado internacional. Enquanto exportamos toneladas de minérios brutos condenamos as gerações presentes e futuras a conviverem com a escassez mineral e com os danos ambientais decorrentes.

Se quisermos proteger a população e o meio ambiente de novas rupturas de barragens de rejeitos de mineração, temos que submeter toda a legislação ambiental referente a essa atividade a uma reforma radical e rever todo o padrão produtivo e as tecnologias a ele associadas. Também será fundamental criar mecanismos que impeçam a imposição desigual de riscos sobre o povo negro, os trabalhadores e trabalhadoras pobres, povos indígenas e outras populações tradicionais. Garantir proteção equânime a todos os grupos sociais e aos trabalhadores significa impedir o rebaixamento dos padrões de operação das atividades poluentes e obter ganhos para toda a sociedade.

O primeiro passo nesse sentido deve ser dado garantindo a reparação integral dos danos causados e a responsabilização da empresa e de todos os órgãos que, por omissão ou negligência, corroboraram para que esse crime ocorresse. Preocupa-nos a possibilidade de que se instale um processo permanente de violação de direitos por meio da exclusão dos atingidos/as das decisões quanto às alternativas e soluções reparatórias, tal como tem acontecido em relação ao desastre de Mariana/MG. Para evitar que isso se repita, exigimos que seja assegurado aos/as atingidos/as acesso transparente a informação, seja garantida sua participação na definição das ações de reparação e seja respeitado seu poder decisório em relação a elas. E que esses princípios sejam adotados no processo reparatório em Mariana/MG, onde muito ainda segue por ser feito.


É certo que o Brasil terá que fazer escolhas inadiáveis se quiser impedir que a injustiça siga sendo o motor de um crescimento econômico que beneficia sempre uma minoria às custas dos direitos de muitos e da degradação de bens comuns.  Elas implicam em escolher entre a proteção de nosso ambiente e de nosso povo em sua diversidade ou dos lucros da Vale, das mineradoras, da agropecuária industrializada e de uma economia global que cada vez se mostra menos capaz e interessada em garantir a democracia, o meio ambiente equilibrado, o bem estar e a felicidade humana.



[1]  Dados do Censo IBGE de 2010sistematizado por pesquisadores do POEMAS

23 de jan. de 2019

Projeto (conflitos) Latentes - dados georrefenciados sobre extrativismo mineral no Brasil!! e conflitos socioambientais

PROJETO LATENTES

O que é
Dados públicos georreferenciados à disposição de defensores, pesquisadores e jornalistas. Quão perto está o extrativismo mineral das unidades de conservação, das terras indígenas, das comunidades remanescentes de quilombolas e dos assentamentos da reforma agrária? Agora é possível enxergar essa realidade. Ver onde está a tensão socioambiental no Brasil.

Como funciona

Latentes simplificou o acesso a informações da Agência Nacional de Mineração (ANM), do Ministério do Meio Ambiente (MMA), da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Basta utilizar o mapa para detalhar a situação da área de interesse. É possível acessar as bases de dados na documentação e tirar dúvidas pelo e-mail latentes@livre.jor.br

Quem fez

Com o apoio do Fundo Brasil de Direitos Humanos (FBDH), Latentes é o resultado do trabalho de catorze pessoas. Na coordenação está o Livre.jor, agência de jornalismo localizada em Curitiba (PR). O projeto integra o edital de Jornalismo Investigativo e Direitos Humanos do FBDH, viabilizado pela Fundação Ford, da Fundação Open Society e da Climate Land and Use Alliance.

Resultados obtidos

Confira as notícias elaboradas a partir do projeto Latentes e a repercussão dos dados na imprensa, na academia e em debates sobre conflitos socioambientais.


30 de mai. de 2018

Nada é impossível de mudar - de Bertolt Brecht

Após tanto tempo em silêncio, posto este belo poema de Brecht, para demostrar que continuamos vivos e querendo mudar as coisas!!



28 de jul. de 2015

Livro “Diferentes formas de dizer não – Experiências internacionais de resistência, restrição e proibição ao extrativismo mineral”


O livro “Diferentes formas de dizer não – Experiências internacionais de resistência, restrição e proibição ao extrativismo mineral” reúne informações sobre o tema de seis distintos países: Argentina, Peru, Costa Rica, Equador, Estados Unidos e Filipinas.

Clique aqui para mais informações sobre a publicação, assim como para baixar o livro disponível em pdf

18 de jun. de 2014

Documentários latino-americanos em tempos de Mundial de Futebol...

Em tempos de Copa do Mundo, como muitos times latino-americanos... para ir além do futebol!




Sobre

DOCUMENTÁRIOS LATINO-AMERICANOS EM REDE

O CurtaDoc é um espaço dedicado ao documentário latino-americano. O projeto nasceu em 2009 no Brasil como um programa para o SescTV, e desde 2011 é também um acervo online. Além de um rico arquivo, estamos formando uma rede de interessados na cultura do documentário. O CurtaDoc quer ajudar a promover o acesso, o intercâmbio, a integração entre os países e idiomas, valorizando a produção e difundindo o audiovisual como patrimônio imaterial.

SAIBA MAIS SOBRE CURTA.DOC

19 de jul. de 2013

Culturas de Resistência - Documentário 2010 (legendas em espanhol)

    Um bom, bonito e (e oportuno) documentário:







    En vísperas de la invasión estadounidense a Irak (2003), la directora Lara Lee emprendió un viaje cuyo objetivo era comprender mejor un mundo cada vez más envuelto en conflictos. Tras varios años de recorrer los cinco continentes, Lee había encontrado una cantidad enorme de personas que dedicaban sus vidas a promover el cambio. Cultures of Resistance es su historia. Desde Irán, donde las pintadas callejeras y el rap se volvieron herramientas contra la represión gubernamental, hasta Birmania, donde monjes que continúan la tradición de Gandhi combaten una dictadura; y de allí a Brasil, donde hay músicos que enseñan a los chicos de la favela cómo reconvertir armas en guitarras, para llegar a los campos de refugiados palestinos en el Líbano, donde la fotografía, la música y el cine le han dado voz a aquellos que pocas veces son escuchados.

Fonte: http://www.culturesofresistance.org/ 

8 de fev. de 2013

CAMPANHA NACIONAL CONTRA A DESERTIFICAÇÃO DA PLANÍCIE GOYTACÁ!



Apoiada por organizações e movimentos sociais nacionais e internacionais (Via Campesina, Movimento de Pequenos Agricultores; Pão para o Mundo, Mãos Unidas, ASPRIM, Associação dos Geógrafos Brasileiros, Instituto Visão Social e pesquisadores de várias universidades como a UENF, UFF e IFF) a Comissão Pastoral da Terra vem a público denunciar o desastre socioambiental que as obras do Complexo industrial e portuário do Açu, empreendimento do bilionário Eike Batista, estão produzindo na região Norte do Estado do Rio de Janeiro.
Primeiramente, definiremos nossa posição quanto à divergência do “mega projeto”. Nossa posição se assenta na experiência de conviver com agricultores da região - inseridos em um contexto da agricultura familiar e da pesca artesanal há mais três séculos. Esta convivência reforça nossa opção de apoio à agricultura camponesa em oposição à mineração, que sustenta o projeto em curso. Ao contrário da agricultura, que devolve o que o homem extrai da terra, o processo de mineração é destrutivo, ou seja, o que se tira da pedreira ou da mina não pode ser substituído. A mineração é inconcebível sem o refugo. A mineração, portanto,
“apresenta a própria imagem da descontinuidade humana, presente hoje e desaparecida amanhã, ora fervilhante de ganhos, ora exaurida e vazia... A crônica da mineração é um túmulo de veios de poços repudiados e abandonados”. (MUMFORD, Lewis, 1961: 450-1).
Para escoar o minério está em andamento, no Açu, a construção de um estaleiro para navios de grande porte, que saliniza a região: sal que provém da areia retirada do mar e depositada na restinga, bem como da abertura do canal para o estaleiro. Devido ao excesso de sal, a água dos canais, das lagoas e do subsolo está se tornando imprópria para a economia pesqueira e agropecuária, bem como para uso humano, criando uma região desertificada.
O INEA, órgão do Estado responsável pela licença ambiental, está sendo investigado, através dos Ministérios Públicos estadual/RJ e Federal sobre irregularidades nas licenças ambientais do projeto.
A implantação do projeto descarta 1.500 famílias que têm suas raízes fincadas naquelas terras há gerações, que resistiram às adversidades do campo brasileiro e protagonizaram toda uma história de vida nas areias fertilizadas por elas mesmas, através de seu trabalho. A forte relação e dependência dessas pessoas com os recursos naturais disponíveis no ambiente, sem os quais não há condições de permanência e de vida em comunidade, sinalizam evidências concretas de pertencimento, sobretudo para os agricultores, que mantém toda uma história de relações com o lugar, a memória vivida e sentimentos afetivos e morais com suas terras.
A CPT convoca a sociedade a apoiar esses camponeses Bem Aventurados, “o sal da terra” na resistência a Eike Batista, nova representação de Abimaleque (pai do rei), personagem bíblico citado no livro dos juízes que, desejando arruinar a cidade de Siquém, semeia sal tornando a terra estéril e infrutífera (Jz 9:45) e, fiel à memória subversiva do evangelho, da vida e da esperança, contribua para que a região do Açu permaneça uma terra onde jorra leite e mel (Nu 13:27), abacaxis, maxixes, amescas...

Campos dos Goytacazes, 30 de dezembro de 2012.
 Coordenação Regional RJ/ES


9 de nov. de 2012

El Dorado.... 500 anos depois o ouro ainda enlouquece!

Hoje nos jornais: Conflitos entre Mundurukus e a polícia.  Assassinatos, cobiça... 2012, quase 50O anos depois dos espanhóis enlouquecerem atrás do ouro, o metálico-metal ainda provoca ambição,  loucura e violência. 

Tramita no Congresso um projeto de lei para autorizar a mineração em terras indígenas, vamos ficar de olho, vamos nos informar, nos indignar, nos mobilizar. 




Leia:   “Mineração assombra índios yanomami”: reportagem especial por Elaíze Farias publicado no Combate ao Racismo Ambiental

29 de out. de 2012

Seminário: CIDADE DE DEUS: Expectativas de acesso ao ensino superior, percepções sociais e mobilização comunitária






SEMINÁRIO
 CIDADE DE DEUS: Expectativas de acesso ao ensino superior,
percepções sociais e mobilização comunitária

Data: 30 de outubro de 2012             
Horário: 9:30 às 17:30    
Local: UFRJ – Campus da Praia Vermelha Av. Pasteur, 250 – Urca – Rio de Janeiro -
Auditório Manoel Maurício Albuquerque - Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH)

OBJETIVO:
O seminário tem por objetivo apresentar e discutir os resultados de uma pesquisa de campo realizada ao longo de 2012 sobre expectativas de ingresso no ensino superior entre jovens da Cidade de Deus.

Além disso, o filme aproveita a oportunidade da passagem dos 10 anos de lançamento do filme Cidade de Deus, de Fernando Meirelles e Katia Lund, para realizar uma reflexão sobre a Cidade de Deus hoje: percepções sociais sobre a comunidade, políticas públicas e mobilização comunitária.

PROGRAMAÇÃO:

9:30 – Abertura
· Rosana Heringer (GESED/FE/UFRJ)
· Paulo Jorge Ribeiro (PUC-Rio)
· Marcio da Costa (GESED/ FE/UFRJ)
· Maria Helena Barros Luz (Diretora do Colégio
  Estadual Pedro Aleixo)
· Magda Cristina  Bastos do Nascimento (Chefe do Setor de Educação Básica - SESI Jacarepaguá)

10:15 – Mesa I: Expectativas de ingresso no ensino superior entre estudantes de ensino médio na Cidade de Deus, Rio de Janeiro

Expositora:
Rosana Heringer (GESED/FE/UFRJ)

Debatedores:
· Gabriela Honorato (FE/UFRJ)
· Warley da Costa (FE/UFRJ)

Moderador:
Paulo Jorge Ribeiro (PUC-Rio)

 12:30 – Intervalo para almoço

14h – Mesa II: Percepções sociais e mobilização comunitária 10 anos após o filme Cidade de Deus

 Expositores:
· Paulo Jorge Ribeiro (PUC-Rio)
· Lizete Martins da Silva (Banco Comunitário da Cidade de Deus e Cons. Comunitário Gabinal-Margarida)
· Luiz Eduardo Soares (UERJ)

 Moderadora:
· Rosana Heringer (GESED/FE/UFRJ)

  17:30 – Encerramento

PROMOÇÃO:
GESED - Grupo de Estudos dos Sistemas Educacionais
Faculdade de Educação
Universidade Federal do Rio de Janeiro

PARCERIA:
- CEACC – Centro de Estudos e Ações Culturais e de
Cidadania
 - Relatoria do Direito Humano à Educação - Plataforma Brasileira dos Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais
 - PUC-Rio

APOIO:
- CFCH/UFRJ
- FAPERJ

Mais informações: seminario301012@gmail.com

6 de set. de 2012

Seminário debate novo marco legal da mineração


Acompanhando o ritmo que parece levar a um novo marco legal da mineração no Brasil, Ibase, Justiça nos TrilhosInesc, IEB e FASE resolveram abrir para a sociedade essa discussão, que tem ocorrido somente dentro do Governo. Assim foi criado o “Seminário sobre o novo marco legal da mineração”, que acontecerá em Brasília nos dias 10, 11 e 12 de setembro.
Foto: Gov/BA
Reunindo ativistas e pesquisadores, o seminário irá debater os efeitos do novo marco legal da mineração sob o olhar da justiça social e ambiental. Devido ao fato da política neoextrativista ter se estendido por toda a América Latina, se torna necessário estudar o impacto dessa nova política com os movimentos de atingidos pela mineração e outras entidades da sociedade civil, especialmente pelo fato do governo parecer interessado em negociar apenas com as empresas mineradoras.
                                                                                   
Dessa forma, o seminário tem o objetivo de integrar a perspectiva de resistência local com a capacidade de incidência nacional e regional sobre a questão. Três perspectivas foram traçadas e serão desenvolvidas durante as mesas de debate. São elas: a questão do marco legal a partir de uma compreensão pós-extrativista; a eleição de frentes de incidência prioritárias, onde seria possível impedir retrocessos e garantir avanços; e a constituição de uma agenda comum de incidência sobre o novo marco regulatório.
O seminário será realizado na Casa de Retiros Assunção (Av L 2 Norte 611 Modulo E – Brasilia – DF).

2 de ago. de 2012

19 de jun. de 2012

Jogo de Angola, por Clara Nunes

Muito bom!!


No tempo em que o negro chegava fechado em gaiola

Nasceu no Brasil quilombo e quilombola

E todo dia negro fugia juntando a curriola

De estalo de açoite de ponta de faca e zunido de bala

Negro voltava pra cola no meio da senzala

E ao som do tambor primitivo: beirimbau, laraque e viola

Negro gritava: abre ala
Vai ter jogo de angola

perna de brigar camará
perna de brigar olê
ferro de furar camara
ferro de furar olê
arma de atirar camará
arma de atirar olê oleeeeee

Dança guerreira, corpo do negro é de mola na capoeira
Negro embola e desembola
E a dança que era uma festa do dono da terra
Virou a principal defesa do negro na guerra
Tendo o que se chamou libertação
E por toda força, coragem e rebeldia
Louvado será todo dia
Esse povo cantar e lembrar o jogo de Angola da escravidão do Brasil

perna de brigar camará
perna de brigar olê
ferro de furar camará
ferro de furar olê
arma de atirar camará
arma de atirar olê oleeeeee

Repete

perna de brigar camara
perna de brigar olê
ferro de furar camará
ferro de furar olê
arma de atirar camará
arma de atirar olê oleeeeee

Repete

perna de brigar camara
perna de brigar olê
ferro de furar camará
ferro de furar olê
arma de atirar camará
arma de atirar olê oleeeeee

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Autores: Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro (1978)

FONTE: Combate ao racismo Ambiental - 10/06/12

7 de mai. de 2012

A Terra vista do céu

Para quem mora no Rio ou planeja vir a cidade, recomendo esta exposição na Cinelândia, ao ar livre e gratuita. Imperdível!!

Clique na imagem para mais informações









“Home - Nosso planeta, nossa casa”
Um belíssimo filme, também de Yann Arthus-Bertrand




Outros olhares...

Porque a realidade costuma ser opaca... e, não poucas vezes, nossos olhares escorregam na sua superfície