Para quem possa interessar, compartilho um artigo meu que saiu publicado em dezembro de 2018 sobre narrativas visuais das corporações mineradoras, ocultamentos, deslocamentos e desastres ambientais e sociais que "sujam a imagem" e evidenciam as falacias contidas nas noções de "industria" da mineração e de "mineração sustentável". Mais um desastre... desta vez, haverá possibilidade de deslocamento por parte capital? Poderão ser absorvidas às críticas?
RESUMO:
Este artigo toma como ponto de partida a premissa acerca da centralidade dos processos simbólicos para compreender, não só as “mágicas” argumentativas que possibilitam às corporações transnacionais mineradoras apresentarem suas práticas como “sustentáveis”, mas também, a própria lógica da reprodução do capital na base da extração de recursos naturais finitos. Para avançar nessa direção, se analisam os dispositivos imagéticos, em especial os audiovisuais, que compõem a chamada “propaganda institucional” (ou “corporativa”) das empresas, com especial atenção para o caso da empresa brasileira
Vale. O artigo se divide em duas partes. Na primeira, se apresenta uma reflexão sobre o caráter dos filmes publicitários das empresas mineradoras à luz da noção de “narrativas contemporâneas”, abordando metodologicamente esses dispositivos como documentos para a análise do “espírito” da mineração. Na segunda parte do texto, se sugerem algumas leituras das representações imagéticas e narrativas sobre a “natureza” e o “desenvolvimento sustentável”, apontando a “alquimia discursiva” que possibilita a uma empresa de mineração apresentar publicamente suas atividades como “sustentáveis”. O texto se encerra como algumas considerações finais acerca dos desafios e limites que a propaganda corporativa e a captura do desenvolvimento sustentável enfrentam, quando desastres ambientais ocorrem, “sujando a imagem” das empresas, e reduzindo a capacidade do capitalismo produzir um deslocamento para conter as críticas.
Referência bibliográfica:
SCOTTO, Gabriela. Narrativas contemporâneas na propaganda corporativa das empresas mineradoras transnacionais: elementos para a análise do “espírito” da mineração. Cuadernos del Instituto Nacional de Antropología y Pensamiento Latinoamericano, [S.l.], v. 27, n. 2, p. 37-54, nov. 2018. ISSN 2422-7749.
Para ler o artigo na integra, clicar no link a seguir:
Narrativas contemporâneas na propaganda corporativa das empresas mineradoras transnacionais: elementos para a análise do “espírito” da mineração
4 de fev. de 2019
30 de jan. de 2019
O CRIME DA VALE: a desigual repartição entre lucros e perdas na mineração brasileira - Nota de protesto e solidariedade da Rede brasileira de justiça ambiental
A Rede Brasileira de Justiça Ambiental expressa a sua mais sentida solidariedade aos familiares e amigos de mortos e desaparecidos em virtude da ruptura da barragem de rejeitos da mineradora Vale, em Brumadinho/MG, assim como aos trabalhadores da mineração e todos aqueles que viram suas residências e suas atividades econômicas irremediavelmente prejudicadas por esse fato.
Desde o desastre ocorrido, em 2015, em Mariana/MG, temos denunciado que o setor mineral brasileiro, com a conivência do Estado, se vale da transferência de riscos e custos ambientais sobre as populações de baixa renda e/ou vulnerabilizadas pela discriminação racial e étnica para maximizar a sua lucratividade. 84.5% das vítimas imediatas do rompimento barragem de Fundão, em 2015, que viviam no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, não eram brancas. No Córrego do Feijão e em Parque da Cachoeira, localidades mais atingidas pelo rompimento da barragem em Brumadinho, 58,8 % e 70,3% da população, respectivamente, se declara como não branca, segundo o último censo do IBGE de 2010. A renda média em Córrego era de menos de 2 salários mínimos (1).
Essa aparente “coincidência” entre os dois desastres reflete a lógica racista, classista, negligente e irresponsável do Estado nos licenciamentos e controle ambiental para favorecer projetos econômicos causadores de injustiças ambientais. A absurda auto regulação, a ausência de fiscalização, de plano de emergência, de sirenes e, sobretudo, de informação antes e depois do desastre estão associadas à escolha locacional dessas barragens e a quem são os grupos sociais postos sob riscos constantes: tratam-se de áreas onde vivem comunidades negras e pobres ou povos indígenas, não representadas nas esferas decisórias e permanentemente desconsideradas e invisibilizadas nesses espaços.
Tais tipos de catástrofe humana e ambiental seriam perfeitamente evitáveis não fosse o interesse econômico das empresas em maximizar seus lucros, para isso economizando nas medidas de segurança, descumprindo ou alterando leis, desconsiderando ou minimizando os impactos ambientais e a própria existência de populações nas áreas de interesse dos negócios. Condutas criminosas, formalmente autorizadas pelas autoridades estaduais e federais, muitas delas eleitas com a contribuição das mineradoras, o que explica a legislação que concede às próprias empresas a tarefa de se auto avaliarem e se monitorarem, bem como a fiscalização frouxa ou mesmo inexistente a que são submetidas.
Infelizmente, os desastres relacionados ao rompimento de barragens, como os ocorridos em Brumadinho e Mariana, sob a leniência criminosa do governo de Minas, têm sido recorrentes: as atividades realizadas pelas mineradoras Rio Pomba Cataguases (Miraí/MG, 2007), Companhia Siderúrgica Nacional (Congonhas/MG, 2008), Herculano Mineração (Itabirito/MG, 2014), Hydro Alunorte (Barcarena/PA, 2018) também resultaram em desastres semelhantes. Eles evidenciam um setor cuja cadeia de produção exige a apropriação de vastos territórios, terras, florestas e águas, contamina o meio ambiente, provoca degradação social e mortes. Um setor que responde a um modelo voltado para a exportação primária de recursos que escoam, sem nenhum tipo de beneficiamento, para o mercado internacional. Enquanto exportamos toneladas de minérios brutos condenamos as gerações presentes e futuras a conviverem com a escassez mineral e com os danos ambientais decorrentes.
Se quisermos proteger a população e o meio ambiente de novas rupturas de barragens de rejeitos de mineração, temos que submeter toda a legislação ambiental referente a essa atividade a uma reforma radical e rever todo o padrão produtivo e as tecnologias a ele associadas. Também será fundamental criar mecanismos que impeçam a imposição desigual de riscos sobre o povo negro, os trabalhadores e trabalhadoras pobres, povos indígenas e outras populações tradicionais. Garantir proteção equânime a todos os grupos sociais e aos trabalhadores significa impedir o rebaixamento dos padrões de operação das atividades poluentes e obter ganhos para toda a sociedade.
O primeiro passo nesse sentido deve ser dado garantindo a reparação integral dos danos causados e a responsabilização da empresa e de todos os órgãos que, por omissão ou negligência, corroboraram para que esse crime ocorresse. Preocupa-nos a possibilidade de que se instale um processo permanente de violação de direitos por meio da exclusão dos atingidos/as das decisões quanto às alternativas e soluções reparatórias, tal como tem acontecido em relação ao desastre de Mariana/MG. Para evitar que isso se repita, exigimos que seja assegurado aos/as atingidos/as acesso transparente a informação, seja garantida sua participação na definição das ações de reparação e seja respeitado seu poder decisório em relação a elas. E que esses princípios sejam adotados no processo reparatório em Mariana/MG, onde muito ainda segue por ser feito.
É certo que o Brasil terá que fazer escolhas inadiáveis se quiser impedir que a injustiça siga sendo o motor de um crescimento econômico que beneficia sempre uma minoria às custas dos direitos de muitos e da degradação de bens comuns. Elas implicam em escolher entre a proteção de nosso ambiente e de nosso povo em sua diversidade ou dos lucros da Vale, das mineradoras, da agropecuária industrializada e de uma economia global que cada vez se mostra menos capaz e interessada em garantir a democracia, o meio ambiente equilibrado, o bem estar e a felicidade humana.
23 de jan. de 2019
Projeto (conflitos) Latentes - dados georrefenciados sobre extrativismo mineral no Brasil!! e conflitos socioambientais
PROJETO LATENTES
O que é
Dados públicos georreferenciados à disposição de defensores, pesquisadores e jornalistas. Quão perto está o extrativismo mineral das unidades de conservação, das terras indígenas, das comunidades remanescentes de quilombolas e dos assentamentos da reforma agrária? Agora é possível enxergar essa realidade. Ver onde está a tensão socioambiental no Brasil.
Como funciona
Latentes simplificou o acesso a informações da Agência Nacional de Mineração (ANM), do Ministério do Meio Ambiente (MMA), da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Basta utilizar o mapa para detalhar a situação da área de interesse. É possível acessar as bases de dados na documentação e tirar dúvidas pelo e-mail latentes@livre.jor.br
Quem fez
Com o apoio do Fundo Brasil de Direitos Humanos (FBDH), Latentes é o resultado do trabalho de catorze pessoas. Na coordenação está o Livre.jor, agência de jornalismo localizada em Curitiba (PR). O projeto integra o edital de Jornalismo Investigativo e Direitos Humanos do FBDH, viabilizado pela Fundação Ford, da Fundação Open Society e da Climate Land and Use Alliance.
Resultados obtidos
Confira as notícias elaboradas a partir do projeto Latentes e a repercussão dos dados na imprensa, na academia e em debates sobre conflitos socioambientais.
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